Moradores da Vila Sahy, área mais afetada pela tragédia em São Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo, relataram ao g1 que não foram alertados sobre risco de deslizamento na região ou de chuvas tão fortes como as que caíram na madrugada de domingo (19).
O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), órgão nacional responsável pelo alerta de desastres, afirmou que o governo de São Paulo e a Prefeitura de São Sebastião foram avisados dois dias antes sobre o risco na região.
São Sebastião vive uma tragédia após a maior chuva da história, com acumulado de 600 milímetros. Até esta quarta-feira (22), 48 pessoas tinham morrido com a tragédia e outras dezenas estão desaparecidas. A maior parte das mortes ocorreu na Vila do Sahy, onde houve vários deslizamentos.
Quase vizinha do Instituto Verdescola, ponto de apoio para as equipes que trabalham no bairro, Luciene Baltar da Silva diz que soube apenas pelo noticiário na televisão sobre a possibilidade de chuva.
“Eu vi que o Litoral Norte estava com previsão de chuva e iria ter risco de enchente, mas nada oficial”, contou.
O irmão dela, Cícero Baltar da Silva, mora a poucas ruas de distância e também alegou que não houve trabalho de mobilização feito antes do temporal.
“Que a gente estivesse sabendo, não [houve alertas de deslizamento]. Minha casa não foi atingida, mas ficou na beira. Foram três casas do lado”, disse.
Segundo o Cemaden, a Defesa Civil Estadual foi avisada desde a quinta-feira (16) sobre o risco de desastre com chuva e deslizamento em todo o Litoral Norte. O órgão confirmou que seu comunicado incluía o risco muito alto de desastre em São Sebastião.
A Defesa Civil Estadual, no entanto, diz que enviou alertas por SMS a 34 mil pessoas em todo o litoral — a região tem 288 mil habitantes. O texto, no entanto, falava de risco de chuva e não mencionava perigo de desabamento
Themison Abreu Assis diz que recebeu o SMS que falava de previsão de chuva entre a sexta e o domingo.
“A Defesa Civil manda os alertas sempre, mas não nessa gravidade toda. Disseram que seria de 200 milímetros, mas a gente vem pegando essa chuva o ano inteiro. Era o normal que a gente estava acostumado. E chegamos a quase 600 milímetros, né”, conta.
A tragédia aconteceu em meio ao carnaval, uma das épocas mais movimentadas pelo turismo. Em São Sebastião, eram esperadas 500 mil pessoas.
Apesar do risco avisado, a prefeitura de São Sebastião, no entanto, não fez qualquer publicação avisando sobre a possibilidade de chuva com estragos. O alerta municipal foi emitido depois de ter chovido 600 mm em 24 horas.
Em nota, a Defesa Civil Estadual disse que o risco foi divulgado na imprensa, em alertas por SMS e nos canais nas redes sociais. O g1 questionou o órgão se as medidas foram suficientes e o motivo de, sabendo do risco, não terem evacuado a área, mas não obteve resposta.
A reportagem também questionou a prefeitura sobre o motivo de não terem mobilizado os moradores e evacuado a área antes do deslizamento, mas não obteve resposta.